Um menino de 15 anos publicou nas redes sociais um post, no qual diz que crianças morrem esperando o serviço
| |
|
GUSTAVO NASCIMENTO
Da Reportagem
Familiares e pacientes da ala infantil do Hospital do Câncer (HC), em Cuiabá, reivindicam a construção de uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Pediátrica no local. A ausência do espaço tem causado a morte de pessoas em tratamento, conforme relatou Andrey Furtado Pescador, de 15 anos, em uma página das redes sociais.O menino tem leucemia e recebeu o diagnóstico há oito meses. Desde então, enfrenta fortes sintomas causados pela quimioterapia. Para o paciente, a dor é forte, mas não chega nem perto da causada pela perda dos amigos que passam pelo mesmo problema.
Na Capital, existem apenas 16 leitos de UTI infantil e todos estão na rede privada. Para os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) terem acesso ao serviço, o governo faz contratos com os hospitais e mesmo assim, a quantidade de vagas é insuficiente para atender a demanda.
Nas redes sociais, a reivindicação tomou grande proporção. Andrey relata com detalhes os obstáculos enfrentados diariamente. “Só uma coisa tem me deixado muito triste, é ver meus amigos do hospital morrerem por falta de UTI pediátrica ou ficarem sofrendo por dias, esperando por exames para continuar o tratamento. Porque o governo está nos abandonando?”, indagou Andrey na postagem, que até o fechamento da matéria tinha mais 3,6 mil compartilhamentos.
A mãe de Andrey, Ângela Furtado, de 42 anos, em julho havia se transvestido de morte e acampado em frente ao Hospital do Câncer, para denunciar a recusa na internação do filho. Na ocasião, a 1ª dama do estado e secretária de Estado Trabalho e Assistência Social, Roseli Barbosa, telefonou para a professora para intermediar a situação.
“Agora nós voltamos a apelar ao governador para que faça algo. As crianças só conseguem ser internadas nas UTI’s com liminar judicial, mas às vezes, é tarde. Na última semana, cinco minutos após a assinatura do juiz, uma criança que agonizava há três dias morreu”.
Ângela contou que uma comissão formada por mães e familiares está organizando um dossiê, com depoimentos e provas para levar o caso ao Ministério Público Estadual. “É muito chocante ver as crianças chorando nos corredores pedindo para não morrer”, disse.
Segundo Arlan Ferreira, professor de pediatria da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), e vice-presidente do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso (CRM-MT), as crianças vêm sofrendo desrespeito do Estado. Ele afirmou que no Pronto-socorro da Capital uma UTI improvisada na ala intermediária tem até colocado em risco a saúde dos menores. “Isto é caso de polícia. Não podemos tratar as nossas crianças deste jeito. É por isto que em Mato Grosso taxa de morte entre as crianças e duas vezes maior que em Santa Catarina”.
De acordo com a oncologista pediátrica responsável pela ala infantil do HC, Suely Araújo, a falta de UTI pediátrica não é um problema apenas da unidade e sim de todo o estado. Contudo, em pacientes em tratamento de câncer o risco de infecção é ainda maior. “A UTI é um suporte para vida das crianças. O tratamento de câncer às vezes é tão pesado para elas que a recuperação só se torna segura dentro da unidade intensiva”.
A transferência dos pacientes também é complicada, tanto pela falta de logística em realizar o tratamento em outro hospital ou outra cidade, quanto pela impossibilidade de se fazer os procedimentos.
Ela afirmou que há mais de dois anos a direção do HC vem pedindo junto ao Ministério da Saúde e ao governo do Estado a instalação de dez leitos na unidade, porém o projeto ainda está em análise. Segundo ela, a UTI não beneficiaria apenas os pacientes com câncer, mas outras crianças que precisam de tratamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário